quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O dia em que conheci Eric Clapton: nada demais.

Terminei a leitura de “Eric Clapton: a autobiografia”. Foi rápido. Até enrolei um pouco, na tentativa de desfrutar mais tempo de tal companhia, mas não deu certo.

A música tem importância magistral em minha vida. Já pensei em comparações do tipo “o ar que respiro”, mas não é por aí. Talvez não seja a música em minha vida, e sim o contrário. Talvez essa importância toda, e significação, seja pelo fato de que eu bem cumpro o meu papel de ouvinte. Estou ali, no lugar em que a música quer que eu esteja. Mas não sou consumidora compulsiva e guiada pela moda. Na verdade sou uma velha, e a cada dia me descubro mais velha e rabugenta, musicalmente. Outro dia, uma tia de 50 e tantos anos, quando falei sobre os shows do E.C., perguntou se ele era o vocalista do Nirvana, dizendo que gostava muito do som. Alguma coisa está fora da ordem...

Com o livro, tentei lembrar de como cheguei até o deus da guitarra. Nesse processo de olhar para o passado, diante de minha velhice musical, vi o Jazz e o Blues, que foram e sempre serão meu porto seguro. Não descobri como encontrei E.C., mas sei que foi de trás pra frente, ou do velho para o novo, ou do Blues para o Rock.

Não procurei, durante todos esses anos, saber qualquer coisa da vida dele. Sabia do filho, de George e Layla, mas sem grandes detalhes. Isso, culpa do Raul. Sempre fui fã de Raul Seixas. Vestia a camisa e tudo o mais que minha idade permitia (não era muito). Mas um belo dia, conversando com outro fanático, percebi a bobagem de tudo aquilo e passei a me importar apenas com a música. A tal pessoa descrevia como e quando Raul ia ao banheiro e isso me incomodou muito.

Essa decisão, levei para todo o resto, na vida, política, cinema...

Um parêntese: já corri muito atrás do Lula. Isso mudou também, mas não fui testada ainda... Tenho minhas dúvidas. Talvez pelo simbolismo disso tudo, ter corrido atrás do metalúrgico, matado aula sem que meu pai eleitor do Collor soubesse... Talvez eu não resista e tiete o Lula novamente, e talvez isso não tenha ligação alguma com política e sim com a liberdade e rebeldia que representou em minha vida. Fecha parêntese.

Então, voltando. Tomei a decisão madura de ler a autobiografia. Abri uma exceção. O fato de ser “auto” ajudou um pouco. Comecei do fim, do que conheci primeiro, para depois chegar ao passado.


Blind Faith - Presence of the Lord from Mike Neumann on Vimeo.

Descobri que nem sempre se gosta de algo por obra do acaso. As impressões sobre bandas, pessoas, artistas e música, muitas opiniões, todas compartilhadas com o slowhand (distâncias acabam, mesmo que ele não saiba disso). Foi bom descobrir e perceber que posso tentar e ir um pouco mais além. Gostar da música e da pessoa. Gostar do jogo e do jogador. E como E.C. fala bastante de blues em seu livro, me lembrei de algumas experiências.

Lembro que usava um walkman da minha irmã escondido, de fita k7. Gostava de olhar para as pessoas ao meu redor e pensar em como era privilegiada por ouvir o sofrimento de Billie Holiday com seus homens. 15 anos na cara e eu me imaginava, de forma arrogante, enganando a todos, que provavelmente pensavam que o meu som era moderno e comercial, quando na verdade, vivia no passado. O jazz tem um pouco ou muito disso, arrogância. Solos de bateria e baixo enormes, enquanto esperava o fim do intervalo da aula, e todas aquelas pessoas do axé ou pagode, passando por mim... tolinhas... (ainda parece arrogante).

Lembro de ouvir Louis Armstrong, a velha k7 de sempre, e quando o trompete surgia o tempo parava e eu simplesmente acreditava não haver nada mais bonito e... (sem descrição). Mas então, lá pela metade da música, ele entrava de surpresa com sua voz e jogava por terra minha conclusão mais recente. Lindo, e sempre conseguia o mesmo efeito comigo, a mesma surpresa.


What a Wonderful World Louis Armstrong from noktasat on Vimeo.

Parêntese 2: Nina Simone, o que seria de minha adolescência sem você?


Mississippi Goddam (Nina Simone) from Ray Anderson on Vimeo.

O Blues foi fácil. Comprava uma fitinha para toda quinta-feira. Acho que era quinta, quando a rádio fazia o dia do Blues. Era o momento das coletâneas. Um dia só de John Lee Hooker, outro de Muddy Waters. BB King, sem comentários. Quando escolhi o codinome LucilleKing (codinome para emails e afins), acho que, inconscientemente, pensei no mais próximo que poderia chegar da música, já que não toco absolutamente nada. Não fui pioneira nisso. Quando tentei criar meu email do gmail, uma Lucille já estava lá e tive que assumir o número 2, o que veio a calhar, pois o rei do Blues estava com sua segunda guitarra.

Nada dessa história toda tem relação com esporte, futebol ou basquete. Posso até tentar algum tipo de associação: hino de clube de futebol. Apesar de vascaína, sou apaixonada pelo hino do América. O do Fluminense também me encanta, uma coisa meio Chico Buarque de ser. Estamos falando de Lamartine Babo e isso não é novidade para ninguém. Tinha um vinil com os hinos dos clubes. Colocava dia de domingo, bem alto, com as caixas viradas para a janela. Achava que todos tinham a obrigação de saber que hino bom, boa música, não era exclusividade de um time só. Também fiz isso com a política e as músicas do PT. Adorava uma boa parte delas.

E tudo isso para concluir que vou virar tiete (ou já sou e não sabia). Vou assistir E.C. no RJ, 09/10 (provavelmente terei um treco com “Old Love”, meu orgasmo musical, se ele tocar). Vou continuar sendo LucilleKing no Twitter ou Facebook... Vou continuar com minha velharia musical e nada mais, nada demais.


Old Love - Clapton & Friends - 1999 from A G on Vimeo.