domingo, 29 de janeiro de 2017

O acaso

Já tinha um tempo que ensaiava escrever sobre O acaso. Queria falar de um caso específico, já que me pareceu uma boa obra do "destino" trabalhando pra me levar a um lugar que em momento algum sonhei ou mesmo imaginei estar. Mas por ironia, pra quem acha ou sempre achou (estou tentando melhorar nesse aspecto) que pode controlar tudo, um outro causo ocorreu.

Sobre o primeiro, era pra falar em como um deixar levar, um não fazer nada, me mandou pra Espanha,  escalar com tops, num lugar top. O mais improvável dos acasos também me levaria para Madri, assistir ao jogo do Real, conhecer o Bernabeu! Jamais planejei ir pra Espanha e menos ainda ser levada pela escalada a matar a minha vontade de futebol!

Mas esse texto, que nem chegou a existir, perdeu lugar pro inusitado que ocorreu na noite anterior ao meu embarque nessa história.

Precisava buscar minha mãe num ponto central de Brasília, a chamada Rodoviária do Plano Piloto. Estava enrolada, já tarde da noite e mala nada pronta. Minha mãe cuidaria da casa e do filhote nos meus dias de ausência.

Ah mãe, tá difícil! Vou pedir um Uber pra senhora. Espera aí que já vai chegar.

Aplicativo do celular. Tento, cancelo e começo de novo. Sempre o mesmo erro: escolha outra forma de pagamento. Preciso ligar pra um 0800 sobre isso? E agora? Só porque tô com mais pressa que tudo!

Mãe! Deu erro. Tô indo buscar a senhora. Chego em 10 min.

É, eu moro perto desse lugar, perto de carro e sem trânsito. O local é o Sudoeste. Um lugar de (preciso classificar...) classe média alta, bem perto do Plano Piloto, asas Sul e Norte. Mas não, não sou dessa Alta aí não. Lá tem uma divisão. Sudoeste e Sudoeste Econômico. Benza Deus sou do Econômico. A explicação disso tudo pode fazer sentido lá na frente.

Chego ao local combinado. Minha mãe entra no carro e meio envergonhada pergunta: pode dar carona pra uma senhora e a filha dela? Eh ali pra Rodoviária do entorno (explicar o entorno... O afastado e carente local ao redor do DF. Talvez a história explique sozinha). Elas estavam no Sudoeste (não o econômico). Passaram o dia pedindo e estão cheias de caixas e sacolas. A filha não quer ir andando e taxi nenhum leva elas. Outro parêntese: a Rodoviária do Entorno é perto. Um desses perto - longe que só Brasília sabe explicar e que os taxistas odeiam.

Vamo lá. Chama aí.  Vamos colocar as coisas lá atrás, naquele bagageiro grande e cheio, extensão da minha casa. Arruma que cabe. Pode entrar! Vou não. Vou andando! Vai com elas, filha. Te encontro lá.

Onde você mora? Planaltina de Goiás (é longe). Que horas passa o ônibus? Vai demorar. Eita, tô ouvindo um barulho aqui. É o som. Estava ouvindo música. Posso acender essa luz? Pode!  Olha esse polícia fechando seu carro! Eles são folgados né. Policia (sim ela falou sem acento) assim morre de jeito estranho sabia! É? E por onde eu entro? Entra ali! Segue aquele carro! Para ali, perto do ferro! Ah, dá uma ré que fica bom! Isso! Aí tá bom!

Descemos. O ônibus já está parado. Ajudo a tirar as caixas. São bem pesadas. Elas ganharam comidas e objetos de casa daqueles que moram no bairro favorecido.

Eu ganhei um abraço.  O Abraço inesperado de uma desconhecida. Garota, esperta, linda na sua loucura (a mãe chamava ela de doida). O Abraço mais bonito que o acaso poderia me dar.

Grata, Uber!