quinta-feira, 7 de abril de 2011

Não posso sorrir

Quando vivenciei o luto, tive medo de fazer quase tudo.
Medo de comer, beber, falar, olhar... Medo de que uma dessas ações provocasse um sorriso involuntário.
Eu não poderia sorrir.

Perdi meu pai com 11 anos. Minha avó foi antes, não lembro minha idade. Outros foram depois.

Sei que parece estranho pensar em sorrisos quando o momento é de luto, mas eu, criança que era, achava que um leve movimento dos lábios configurava o sorriso e essa possibilidade me martirizava.

Com o tempo, a palavra "significado" foi determinante.
A vida não tinha muito sentido. Você estuda, trabalha, e...

Mas então eu virei mãe, e sorriso é a coisa mais fácil de acontecer depois da maternidade. Pra dizer a verdade, no meu caso, quando penso e/ou falo sobre meu filho, o sorriso vem com os olhos cheios de lágrimas.

Por acaso, essa semana, no meu trabalho, vi que o funcionário que perde o filho tem direito a 5 dias de folga.
Pensei no meu filho e em como 5 dias não representam nada.
Como se fosse possível sentar diante do computador e seguir sua vida sem significado...
Que coisa estranha, quase uma piada pronta, mas que não faz rir.
E são muitas as coisas estranhas que acontecem nesse mundo.

Aos que estão hoje de luto, nada de "meus pêsames".
Nunca gostei de ouvir essa frase. Não me ajudava a enteder.
O que tenho a dizer é que não posso sorrir.

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